segunda-feira, 9 de maio de 2011

Volta do Vídeo em Cena


Olá pessoal,
O vídeo em cena está voltando! Segue abaixo a programação prevista para o semestre.

Projeto Vídeo em Cena no CCS

Programação: 1º semestre / 2011

Maio – Temática: Escola
10, 11 e 12 - Elefante
17, 18 e 19 - Pro Dia Nascer Feliz
24, 25 e 26 - Ao Mestre, com carinho
31, 01 e 02 – ABERTO PARA SUGESTÕES

Junho – Temática: Saúde
7, 8 e 9 - Estamira
14, 15 e 16 - Sicko
21 e 22 - Réquiem para um sonho
28, 29 e 30 – ABERTO PARA SUGESTÕES

Julho – Temática: Diferenças
5, 6 e 7 - Preciosa
12, 13 e 14 - Um sonho possível
19, 20 e 21 – ABERTO PARA SUGESTÕES


No local há uma caixinha para receber as sugestões!
Beijos e até lá!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Minha primeira vez com Bergman


Para alguns isso pode soar estranho, para outros normal. O fato é que até outro dia eu nunca havia visto nenhum filme de Ingmar Bergman. Não por descaso ou desgosto... Não aconteceu antes, essas coisas da vida. Claro, não tenho formação em cinema, não sou pesquisadora da sétima arte, nem mergulhei nos clássicos antes de começar a gostar de assistir filmes. Meu amor pelo cinema_ sentimento tranquilo, paciente e pleno que é_ jamais me fez afoita e desesperada. Fui me deixando levar pelos filmes mais simples, aqueles de sessão da tarde... Depois passei a devorar todas as fitas da videolocadora até que não restasse nada novo que eu não tivesse visto. E, num movimento natural, comecei a me interessar pelos filmes mais originais_no sentido de origem e de originalidade_, pelos diretores mais destacados, pelos atores mais performáticos... Enfim, quando me dei conta, não podia mais viver sem o cinema.
E como os filmes reacendem eternamente a paixão no plácido sentimento de amar a sétima arte, toda vez que me apaixono por um, me entrego ao entusiasmo e à contemplação... Foi o que, aliás, também aconteceu quando assisti “Ilha do Medo”, cujas qualidades descreverei em outra ocasião, porque me proponho a falar de Bergman hoje. Mais especificamente sobre Persona. Então porque falei do filme do Scorcese? Pelo fato de que ambos os longas falam de sanidade e loucura de maneira hipnotizante.
Persona” estava na minha lista de pretendidos há algum tempo, mas todo filme tem seu momento certo. Tenho certeza que não teria degustado com tal prazer se o tivesse visto antes. Um cineasta que introduz você no universo do filme e dele próprio, antes da história começar, merece, no mínimo, 2h da nossa atenção. Para situar o expectador na insanidade da narrativa, Bergman usou imagens perturbadoras e desconexas antes do filme. Quando este começa, nós já estamos prontos para pirar juntos com a personagem_ ou as personagens? A trilha sonora opressora e os enquadramentos quase 3x4 sufocam, nos desestabilizam., encantam. Fora os diálogos que são de uma riqueza de entrega dos receios e dramas mais íntimos daquelas pessoas passeando pela tela. O preto e branco traz luz e escuridão, tão belos e perfeitos para prender nossa atenção ao que interessa.
Ainda não conheço bem Ingmar Bergman para dizer que terei por ele um amor eterno, mas digo com toda certeza que na minha primeira vez com ele, eu me apaixonei.   (Mônica Lobo)

sábado, 26 de junho de 2010

Abrindo os serviços

O kinoglaz - Cine-olho

Alô gente!!!! Pensei que estava atrasada na testagem dessa nova abertura para o presente-futuro do Projeto Vídeo em Cena, mas parece que estou inaugurando os serviços!!!!! Vai então um abraço forte para Mônica Lobo, a parteira do blog e um "boas vindas" caloroso para todos que virão depois de mim!

Não dá pra não falar um cadinho que seja a respeito de cinema no blog de um Projeto que pretende "usar" o cinema para falar, pensar e provocar mudanças sobre nossa vida cotidiana.
Escolhi um frame do Dziga Vertov, esse olho por trás de uma lente, como primeira postagem por vários motivos: primeiro, porque considero o Vertov bárbaro; segundo, porque nosso Projeto lida com a questão do olhar, dos olhares; terceiro, porque remete também à questão das lentes que usamos para ver/pensar o mundo. Não vai dar prá falar disso tudo agora, mas devagarinho vou trazendo as propostas para reflexão.

Por hoje, vou no básico: o que é frame? Quem é Dziga Vertov?

Frame - termo em inglês que designa um fotograma ou quadro.

Dziga Vertov
Filho de judeus intelectuais residentes em Bialystok, Rússia, Dziga Vertov nasceu Denis Kaufman em 1896. Estudou música no conservatório da cidade até a invasão alemã que o obrigou a mudar-se para Moscou. Lá, trava conhecimento com o Futurismo de Marinetti, enquanto se dedica à poesia e à ficção científica. Neste momento adota o pseudônimo: Dziga Vertov – Vertov é derivado do verbo girar, rodar ou fazer rodar; Dziga, segundo o próprio, é a onomatopéia do girar da manivela em uma câmara (dziga, dziga,...). Assim, Dziga Vertov se identifica como uma máquina que ainda não filma, mas que registra e percorre o mundo com os olhos, um ser-máquina.


Em 1916 vai para St. Petersburg estudar medicina, ao mesmo tempo em que inicia experiências de montagens a partir de gravações sonoras. Dois anos depois dá partida na carreira cinematográfica como diretor do primeiro programa oficial de atualidades, o cinejornal Kinonedelia (ver Manifestos). Conhece sua futura colaboradora e esposa, Elizaveta Svilova, com quem formará mais tarde o Conselho dos Três. Em 1922, batiza seu trabalho próprio Kinopravda, em homenagem ao jornal fundado por Lênin. Vertov, seu irmão Phillip Kaufman e Elizaveta formam o Conselho dos Três acerca dos trabalhos do Kinopravda. Em 1922 publicam a Resolução do Conselho dos Três, decretando a morte do cine-drama alemão e da "ausência de fundamento do cinema americano", embora o próprio manifesto faça ressalvas sobre "a velocidade das imagens e os grandes planos".

O relato de seu primeiro contato com o cinema revela já certas concepções futuras. Ele narra:

"Eu lembro de meu debut no cinema. Foi totalmente estranho. Não envolveu uma filmagem, mas um pulo, uma das mil e uma estórias de uma casa de verão ao lado de uma gruta [...]. O cameraman havia pedido para gravar meu pulo de modo que toda queda, minha expressão facial, todos os meus pensamentos pudessem ser vistos. Fui para cima da gruta, em sua beirada, pulei, gesticulei como se fosse um véu e caí. O resultado, em filme, foi o que descrevo abaixo: Um homem se aproxima à borda da gruta; medo e indecisão em sua face; ele pensa ‘não vou pular’. Então, decide: ‘Não, será embaraçoso, todos estão vendo’. Mais uma vez ele se aproxima da borda, mais uma vez ele mostra indecisão. Então, sua determinação cresce e ele diz para si mesmo, ‘eu devo’, e deixa a beirada da gruta. Ele voa através do espaço, voa sem equilíbrio; acha que deve se posicionar para aterrizar em pé. Ele se ajeita [...], mais uma vez sua expressão revela indecisão, medo. Finalmente seu pé toca o chão. Imediatamente constata que manteve o equilíbrio. Depois acha que pulou bem mas não deveria tê-lo feito como um acrobata que executa uma manobra complicada no trapézio, e finge que foi terrivelmente fácil. E com essa expressão ele flutua lentamente. [...] Do ponto de vista do olho ordinário vemos mentiras. Do ponto de vista do olho cinemático (auxiliado por métodos cinematográficos especiais, neste caso, filmagem acelerada) vemos verdades. Se é uma questão de ler os pensamentos de alguém à distância (e muitas vezes o que nos interessa não é ouvir as palavras da pessoa, mas ler seus pensamentos) então, eis a oportunidade. Ele pode ser revelado pelo Kinoglaz (o cine-olho)."

O cine-olho nada mais é do que a substituição da percepção humana, por ele considerada defeituosa e por demais "psicológica", pela perfeição da máquina. Vertov chega a clamar por uma sociedade elétrica, cujo homem ideal seria o homem máquina; o valor da máquina, sua exatidão, estaria atrelada não a "produtividade", mas à consciência de uma mudança de comportamento: “Ao revelar a alma da máquina, promovendo o amor do operário por seu instrumento, da camponesa por seu trator, do maquinista por sua locomotiva, nós introduzimos a alegria criadora em cada trabalho mecânico, nós aproximamos os homens das máquinas, nós educamos os novos homens”.

O novo homem, libertado da canhestrice e da falta de jeito, dotado dos movimentos precisos e suaves da máquina, será o tema nobre dos filmes. Vertov não prega uma sociedade cibernética. Ele pensa o cinema como arma contra a dominação; como organismo autônomo que não carece do "auxílio" de outras artes. Como forma de suplantar a ignorância e de arregimentar pessoas contra a exploração, o vício, a religião.

Entusiasmo ou Sinfonia dos Donbas, filme de 1930, trata objetivamente desta superação. Nas primeiras cenas, somos chamados à realidade: Vertov nos mostra a religião que prejudica os princípios de uma revolução, os bêbados e drogados sem lar, alienados de suas potencialidades. As cenas são montadas como um imenso "estado", uma situação de caos e miséria, a princípio, irreversível. Depois, vemos pessoas que auxiliam os bêbados, tiram-nos das ruas. Igrejas são destruídas pelo povo e sentimos uma mudança nas vibrações do filme. O estado de antes, tão pesadamente composto, começa a se dissolver. Corta: vamos visitar as cooperativas agrícolas onde o trabalho comunitário é enaltecido como forma de superação. Não é uma apologia do trabalho, mas uma concepção de trabalho. Em Vertov, a nova sociedade sublima o trabalho para superar a escravidão, isto é, trabalham para afirmar a liberdade e a responsabilidade pelo futuro.

Ora, quem nos ouve tecer tais comentários sobre o filme pode imaginar Vertov um capitalista pregando a moral do trabalho ou um comunista buscando levar a revolução à frente. Não! As cenas poderiam ser dispostas de modo panfletário, mas são inusitadamente "musicais". Os sons captados não soam como trilha sonora ou sonoplastia: são o "interior" da cena, isto é, não servem como complemento dramático, mas como um elemento imprescindível na composição. Os intervalos são articulados, então, como forma de obter uma canção visual, arte do movimento, onde a música e a sensação "teatral" dos movimentos corpóreos são cinema. A composição vertoviana supõe uma outra relação com a imagem, que não a corriqueira, encharcada de plano americano, campo/contra-campo e close-up. 

(texto adaptado a partir de http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_4844.html)

Até a próxima, Marcia Bastos