Para alguns isso pode soar estranho, para
outros normal. O fato é que até outro dia eu nunca havia
visto nenhum filme de Ingmar Bergman. Não por descaso ou
desgosto... Não aconteceu antes, essas coisas da vida. Claro, não tenho
formação em cinema, não sou pesquisadora da sétima arte, nem mergulhei
nos clássicos antes de começar a gostar de assistir filmes. Meu amor
pelo cinema_ sentimento tranquilo, paciente e pleno que é_ jamais me fez
afoita e desesperada. Fui me deixando levar pelos filmes mais simples,
aqueles de sessão da tarde... Depois passei a devorar todas as fitas
da videolocadora até que não restasse nada novo que eu não tivesse
visto. E, num movimento natural, comecei a me interessar pelos filmes
mais originais_no sentido de origem e de originalidade_, pelos
diretores mais destacados, pelos atores mais performáticos... Enfim,
quando me dei conta, não podia mais viver sem o cinema.
E como os filmes
reacendem eternamente a paixão no plácido sentimento de amar a sétima
arte, toda vez que me apaixono por um, me entrego ao entusiasmo e à
contemplação... Foi o que, aliás, também aconteceu quando assisti “Ilha
do Medo”, cujas qualidades descreverei em outra ocasião, porque me
proponho a falar de Bergman hoje. Mais especificamente sobre “Persona”.
Então porque falei do filme do Scorcese? Pelo fato de que ambos os
longas falam de sanidade e loucura de maneira hipnotizante.
“Persona” estava na
minha lista de pretendidos há algum tempo, mas todo filme tem seu
momento certo. Tenho certeza que não teria degustado com tal prazer se o
tivesse visto antes. Um cineasta que introduz você no universo do
filme e dele próprio, antes da história começar, merece, no mínimo, 2h
da nossa atenção. Para situar o expectador na insanidade da narrativa,
Bergman usou imagens perturbadoras e desconexas antes do filme. Quando
este começa, nós já estamos prontos para pirar juntos com a personagem_
ou as personagens? A trilha sonora opressora e os enquadramentos quase
3x4 sufocam, nos desestabilizam., encantam. Fora os diálogos que são
de uma riqueza de entrega dos receios e dramas mais íntimos daquelas
pessoas passeando pela tela. O preto e branco traz luz e escuridão, tão
belos e perfeitos para prender nossa atenção ao que interessa.
Ainda não
conheço bem Ingmar Bergman para dizer que terei por ele um amor eterno,
mas digo com toda certeza que na minha primeira vez com ele, eu me
apaixonei.
(Mônica Lobo)